Se quiser saber mais detalhes sobre o sistema de saúde na Alemanha, convido você a assistir ao nosso vídeo sobre o tema em nosso canal do YouTube.
Já se quiser a versão texto, basta seguir lendo aqui abaixo:
Há algum tempo, postei aqui informações básicas sobre a estrutura política alemã. Estava eu lendo uma reportagem no Die Zeit sobre os problemas que assolam o sistema de saúde alemão e me veio a ideia de esclarecer um pouco como ele funciona. Antes de mais nada, é importante atribuir o surgimento do seguro-saúde ao homem que esteve por trás da unificação alemã, Otto von Bismarck. Estamos no ano de 1883: época em que a recém-unificada Alemanha passa por um surto de industrialização.
Sistema de saúde alemão foi idealizado por Otto von Bismarck
A exploração dos trabalhadores é extrema. Greves e agitações é o que não faltam. O conservador Bismarck, completamente contrário à ascensão de comunistas ao poder, executa uma reforma trabalhista, incluindo nela o seguro-saúde, o qual segue o princípio da solideriedade. Isso significa que a sociedade trabalha em conjunto para manter o bem-estar de todos os indivíduos: o trabalhador saudável contribui para o sistema de saúde, garantindo, assim, a recuperação do trabalhador que adoece. Nos anos que seguem, surgem ainda o seguro de acidente de trabalho e, em 1889, o seguro de velhice.
Nenhuma novidade, fora o fato de que nessa época o trabalhador participava com dois terços das contribuições para o setor, sendo o outro terço incumbência do empregador. Nos dias de hoje, porém, essa obrigação foi repartida ao meio.
Vale ainda dizer que Bismarck queria impedir a emigração de trabalhadores alemães, sobretudo para os Estados Unidos, onde os salários eram mais altos. O diferencial para manter a população na Alemanha seria garantir alguns direitos que os americanos, por sua vez, não garantiam (e continuam não garantindo). É até interessante aproveitar o tema de emigração de trabalhadores e constatar que na atualidade são os próprios médicos da rede pública os mais descontentes com sua remuneração. O que vem acontencendo nos últimos anos aqui na Alemanha é justamente um cisma de médicos alemães para a Escandinávia e, apesar da falta de seguridade social, para os Estados Unidos.
Seguro de saúde público abrange 90% da população alemã
Antes de apontar a consequência deste último fato, quero ainda deixar claro que o sistema de saúde alemão, como o brasileiro, tem duas versões: a pública e a privada. A pública é utilizada por quase 90% da população e exige de todo trabalhador uma contribuição mensal (descontada diretamente na fonte) de 15,5% do salário bruto. Já o seguro-saúde privado é bem mais caro e é aconselhável para pessoas cuja remuneração ultrapassa os 50 mil euros anuais.
Falta de médicos é um dos grandes problemas
Dentre os maiores problemas que o sistema apresenta, deve-se mencionar a falta de médicos devido ao cisma que já mencionei, fato que se agrava nos meses de inverno, época em que as doenças respiratórias têm um boom e os departamentos de ortopedia ficam cheios devido a inúmeros acidentes causados por quedas no gelo e na neve. Sim, os hospitais também ficam cheios aqui na Alemanha. Consequência disso: os médicos, na vontade de querer dar conta de muitos pacientes em menor tempo, acabam por deixar de lado tratamentos mais pessoais.
Apesar disso, o sistema alemão não pode ser visto como um dos piores do mundo. Ao contrário, ainda figura entre os melhores. Só para se ter uma ideia, a União investe a impressionante cifra de 250 bilhões de euros no setor, o que equivale a 11% do PIB. Imaginem o que este valor significa para outras esferas do setor de saúde e que jogo de poderes está por trás de suas aproximações. Refiro-me aqui sobretudo à indústria farmacêutica, um dos mais poderosos setores da economia alemã.
Fontes: Deutsche Welle, Die Zeit