História

Memorial aos Ciganos é emocionante memorial às vítimas do Holocausto

Fonte: Sinti und Roma
Vítimas do Holocausto, ciganos também têm seu memorial. (Fonte: Sinti und Roma)

Você já deve ter ouvido falar que alguns políticos iranianos anti-Israel chegam até mesmo duvidar de que o Holocausto realmente aconteceu. Claro que eles sabem que os judeus foram mortos em milhões entre os anos de 1933 e 1945. O discurso de negação do Holocausto é simplesmente uma estratégia de não-reconhecimento do ocorrido. Agora imaginem que 500 mil ciganos foram exterminados da face da Terra no mesmo período acima citado e pelos mesmos criminosos, quer dizer, os nacional-socialistas. E pasmem: só em 1982, sim 1982, quase 40 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, é que o Holocausto dos Sinti e Roma (assim são chamados os ciganos na Europa) foi reconhecido. E nesse caso, não era nem mesmo reconhecido pelas democracias europeias…

Logo depois do fim da Segunda Guerra, judeus, por exemplo, passaram a receber indenizações dos crimes cometidos pelos nazistas. Até hoje, descendentes israelenses de vítimas do Holocausto podem requerer ajuda econômica do governo alemão, como se fossem cidadãos alemães. Este tipo de tratamento só foi dado aos ciganos depois de 1982… Mesmo a construção de memoriais para lembrar a tragédia perpetrada por Hitler e seus seguidores aos ciganos só pôde ser pensada depois de 1982…

Os judeus ganharam seu memorial em 2005. Os ciganos, por sua vez, em 2012. Ambos encontram-se nos entornos do talvez maior símbolo nacional alemão, o Portão de Brandemburgo. Para mim, o Memorial aos Ciganos, do israelense Dani Karavan, é o mais tocante e representativo de todos os memoriais que conheço em Berlim. Entre árvores do belo parque Tiergarten, entre o Portão de Brandemburgo e o Reichstag, o memorial é um espaço de ritual, de respeito às vítimas, de se emocionar.

Entrada do Memorial aos Ciganos, no Parque Tiergarten (Fonte: Sueddeutsche Zeitung)
Entrada do Memorial aos Ciganos, no Parque Tiergarten (Fonte: Sueddeutsche Zeitung)

Ao entrar, ao som melancólico e obsedante de um violino, você logo perceberá que as pedras por quais pisa levam nomes de campos de concentração e extermínio. Você também avistará uma fonte circular e em seu centro, um triângulo daqueles que todos os confinados em campos levavam em seus uniformes como forma de classificação para os nazistas. Os ciganos, por exemplo, tinham triângulos pretos em seu peito. Ao se aproximar desta fonte, constata-se que ela não é como as belas fontes de jardins, de parques. Não, a água não jorra para representar a vida. No Memorial dos Ciganos, a água quase que está deixando de jorrar, como se fosse uma fonte a se esgotar, como se fosse o fim da vida.

Eis que uma poesia ao redor desta fonte recria a sensação que tantos confinados em campos experimentaram. A poesia de Santino Spinelli diz: “Um rosto pálido / Olhos amortecidos /Um coração partido / Lábios frios / Silêncio / Sem fôlego / Sem palavras / Nenhuma lágrima”. Tudo neste memorial parece se relacionar para recriar o sentimento dos ciganos e de tantas outras vítimas, mas também para gerar a comoção do visitante. Fica impossível de sair do Memorial dos Ciganos sem ser tocado pela poesia, pela música, pela fonte que se esgota.

O Memorial dos Ciganos jamais fecha. Você pode visitá-lo dia e noite (eu sugiro a visita durante o dia). Diria que é uma das mais importantes atrações a serem visitadas em Berlim, pois apesar de ser um memorial voltado a um grupo específico de mortos pelo nazismo, ele não deixa de transmitir a dor espiritual de qualquer vítima de qualquer regime fascista.

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