Berlim, 18 de abril de 1941. Em uma nova fase de perseguição nazista, dá-se início à deportação em massa de judeus que viviam na capital alemã. Justamente nesse dia, um trem especial levando mil judeus partia da estação Grunewald com destino ao gueto de Lodz, atual Polônia. Policiais e agentes da SS receberam ordens de alojar as vítimas num barracão em Moabit, bairro próximo ao Bairro Judeu. Dali, os mil prisioneiros dirigiram-se a pé até a estação de Grunewald. A partir desse dia até 1945, 180 comboios transportaram judeus a guetos e, a partir de 1942, a campos de extermínio, como Auschwitz.
O número de vítimas era tão grande que mesmo a empresa de trens do Terceiro Reich, a Deutsche Reichsbahn, que a priori havia calculado fornecer apenas trens de passageiros a este empreendimento, acabou tendo que enviar vagões que transportam bens para contemplar a demanda do governo alemão. E não pense que os tais “passageiros” viajavam de graça até o local em que a morte lhes esperava. Pelo contrário: cobrava-se 1 centavo por cada adulto e 2 centavos por cada criança abaixo de 4 anos pelo trajeto e a conta era remetida à comunidade judaica.
Dos 160 mil judeus que viviam em Berlim em 1941, 55 mil foram vítimas de tais deportações, sendo que 35 mil deles deixaram a capital do Terceiro Reich por Grunewald, mais especificamente pela Plataforma 17. Hoje, esta plataforma está desativada. Desativada para sempre, já que árvores foram plantadas sobre os trilhos, cujas margens informam ao visitante as mais de 180 viagens feitas desta estação até a morte em campos de extermínio ou guetos: com data, número de prisioneiros por viagem e o seu destino.
Esta instalação é ainda acompanhada de uma escultura feita a partir de um bloco de concreto de 18m de comprimento. Nele podemos ver silhuetas de corpos humanos ou mesmo partes deles, como se todas as vítimas do nazismo pudessem se encaixar total ou parcialmente a estas formas. Percebe-se, com isso, a iconografia do anonimato, da redução do humano a um “modelo” suscetível a manipulações em massa, a reproduções de uma forma estandardizada de pensar ou agir e, infelizmente neste caso, a humanos sem nome, sem rosto, apenas silhuetas anônimas, números que se dirigem a um matadouro. A bela obra é do polonês, natural de Lodz, Karol Broniatowski.
O conjunto da obra aqui perfaz o Memorial Plataforma 17, segundo de nossa série sobre memoriais a vítimas do nazismo, que fica na estação de S-Bahn Grunewald, na parte ocidental de Berlim, mais precisamente em uma bela região cheia de árvores, lagos e belas casas. Talvez o que mais chama a atenção em Grunewald seja justamente a beleza da paisagem urbana. Por isso, acredito que minha dica é muito mais uma visita a Grunewald em geral e que, por tabela, exige uma curta passagem pela Plataforma 17. Talvez depois de uma parada na estação Grunewald, por que não continuar até Wannsee ou ir até Potsdam?