Arquitetura

Oscar Niemeyer participou da reconstrução de Berlim

Edifício de Oscar Niemeyer no Hansaviertel (Fonte: TvArquitectura.com)
Edifício de Oscar Niemeyer no Hansaviertel (Fonte: TvArquitectura.com)

Muitos já se perguntaram se existe algum edifício de Oscar Niemeyer em Berlim. Este post, portanto, foi inspirado nesta importante indagação.

Com a iminente derrota alemã na II Guerra Mundial, britânicos, soviéticos e norte-americanos reúnem-se entre os dias 17 de julho e 2 de agosto de 1945 no Palácio de Cecilienhof, em Potsdam, para decidir sobre o futuro da Alemanha. Dentre as decisões dos Aliados, uma delas é significativa para a história alemã: por exigência de Churchill, a dissolução da Prússia, o fim definitivo de um poderoso reino dos séculos XVIII e XIX e que havia sido o mentor da unificação de 1871. A outra decisão mudaria a história da segunda metade do século XX: estou me referindo à divisão da cidade de Berlim e igualmente do território alemão em quatro zonas de ocupação, as zonas britânica, francesa, soviética e estadunidense.

Embora o Muro de Berlim tenha sido erigido apenas em 1961, as diferenças entre Berlim Oriental (a zona soviética) e Ocidental (as zonas americana, britânica e francesa) são patentes já nos anos após a Conferência de Potsdam. A concorrência entre os dois lados para promover suas visões de mundo em todas as instâncias da vida do alemão (e de todos os cidadãos do mundo) é evidente. Afinal, já estamos nos anos conhecidos como os da Guerra Fria, a guerra ideológica entre os EUA e a URSS, entre capitalistas e socialistas. Logo após a guerra, o Plano Marshall americano tem como principal objetivo a reconstrução da Europa Ocidental. Os soviéticos não ficam para trás e, através do Comecon, executam projetos de reconstrução do leste alemão e europeu.

Karl-Marx-Allee (ainda Stalinallee) em 1954 (Fonte: Flickr)
Karl-Marx-Allee (ainda Stalinallee) em 1954 (Fonte: Flickr)

Um ótimo exemplo dessa tensão em Berlim reflete-se nos movimentos arquitetônicos do pós-guerra, mais precisamente na década de 1950. Enquanto os soviéticos, entre 1952 e 1954, reconstroem a destruída Frankfurter Strasse, baseando-se em motivos nacionais, homenageando o grande arquiteto prussiano do século XIX Friedrich Schinkel, desenhando um espaço completamente “socialista” nas proximidades da Alexanderplatz e rebatizando-a de Stalinallee (a partir de 1961, Karl-Marx-Allee), do outro lado da cidade, mais precisamente na altura do Tiergarten, no Hansaviertel (o Bairro Hansa), delineia-se uma grande mobilização para reconstrução habitacional que irá se refletir em toda a parte ocidental da Alemanha, mas cujo germe encontra-se em Berlim, especificamente na figura de uma Exposição Internacional de Arquitetura: a Interbau 1957. Serão 35 os edifícios construídos por renomados arquitetos de então: Alvar Aalto, Paul Baumgarten, Walter Gropius e Max Taut estão entre eles.

Vista aérea do Hansaviertel (Fonte: mai-nrw.de)
Vista aérea do Hansaviertel (Fonte: mai-nrw.de)

Mara Oliveira Eskinazi, quando escreve para a revista vitruvius, afirma que a iniciativa de reconstrução do Hansaviertel produziu uma grande variedade de tipologias habitacionais, expressando, assim, uma gama de diferentes possibilidades de habitar na cidade moderna. E voltar nossas atenções para 1957 significa colocar o Brasil “na roda” desta gama de possibilidades. Afinal, está em pleno andamento a construção de Brasília. Não é à toa que o pavilhão brasileiro na Interbau chamava-se “Brasilien baut Brasília” (O Brasil constrói Brasília). É onde eu queria realmente chegar com este post: falar da participação do póstumo Oscar Niemeyer (1907-2012) na reconstrução do Hansaviertel. Sim, pois ele integra aquele grupo de renomados que mencionei acima.

Obra de Oscar Niemeyer em Berlim se encontra na parte ocidental da cidade

Isso quer dizer que Niemeyer também está presente nas construções de Berlim e, diferente do que se possa imaginar, não nos domínios da Berlim stalinista da Stalinallee, mas figurando entre os principais arquitetos modernistas. Niemeyer insere-se num contexto político muito importante para os alemães. Sobretudo porque a campanha no país é de valorização do diferente, da multiplicidade, da “mestiçagem”, da democracia, em detrimento total dos derrotados sentimentos nacionalistas, totalitários e racistas que também se expressaram na arquitetura nazista, cujo gênio expoente era Albert Speer (1905-1981).

Aos que equivocadamente associam Niemeyer, por ser “comunista”, aos ideais totalitários presentes nos regimes socialistas da Guerra Fria, sua participação na Interbau de 1957 e no projeto de reconstrução da Hansaviertel é a melhor resposta e o que mais evidencia sua reverência à liberdade, à diferença e, claro, ao que ele acreditava que seria a melhor maneira de colocar em total interação o homem e o espaço: a arquitetura.

Àqueles que visitam ou que futuramente estarão em Berlim, fica a dica: um passeio pelo Hansaviertel. E por que não a Potsdam e ao Palácio de Cecilienhof, o palácio da Conferência de Potsdam? Estamos prontos a guiá-los. Basta entrar em contato conosco.

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