Falar do Holocausto, quer dizer, da morte de 6,5 milhões de judeus é, sem dúvida, para nós, pensar o impensável. Não existe qualquer argumento racional que justifique o massacre de tantos inocentes, quer seja por fatores político-ideológicos – os nacional-socialistas sugeriam que os judeus haviam sido responsáveis pela derrota e humilhação alemã na Primeira Guerra Mundial ou que eram comunistas – ou por discursos nacionalistas – “o judeu é de “raça” inferior e põe em risco o futuro glorioso da nação alemã”… O mesmo vale para o massacre dos 500 mil ciganos ou qualquer outro grupo que foi perseguido por Adolf Hitler et caterva.
Até pouco tempo, muitos historiadores afirmavam de forma uníssona que o momento de transformação radical na política nazista para a “questão judaica” teria sido o encontro de uns 15 homens fortes de Hitler, dentre eles ministros de Estado, chefes da SS e outros importantes políticos numa mansão às margens do lago de Wannsee. Estou me referindo aqui à Conferência de Wannsee, que se deu no início de 1942 e teria demarcado o programa que levaria à “solução final” para os judeus, sendo a construção de campos de extermínio o ponto máximo para seu efetivo procedimento.
O holocausto teria sido premeditado?
Quer dizer, antes de 1942, Hitler e seus comparsas não teriam tido em mente um dos genocídios que marcaram o século 20. A partir de 1933, ano em que Hitler torna-se chanceler alemão, por exemplo, dá-se início à retirada de direitos dos judeus que viviam (porque muitos tinham nascido…) na Alemanha, culminando essa primeira fase nas Leis de Nuremberg de 1935. E mesmo até a Noite dos Cristais de novembro de 38, não se observa qualquer movimento dos nacional-socialistas para assassinar em massa os judeus e outros grupos por eles perseguidos e odiados. A extradição com expropriação de bens dos judeus era algo bastante comum até então, por exemplo.
Há certos historiadores que se debruçam para entender a razão da radical mudança nos planos dos nacional-socialistas para o futuro do povo judeu e que comumente é associada à Conferência de Wannsee e à tal da “solução final”. No entanto, há aqueles que apontam aspectos que nos levam à conclusão de que já havia, sim, senão algo completamente calculado, pelo menos um prenúncio para o Holocausto. Em seu panfleto programático Mein Kampf (“Minha Luta”), escrito em 1923, Hitler já entendia que o extermínio dos judeus era necessário. Em 1940, ações que levaram à morte de milhares de judeus na Polônia são, como se constata pela data, algo anterior à Conferência de Wannsee. Ou então os assassinatos em massa em território soviético de judeus naquilo que os nazistas chamavam de guerra total contra o “bolchevismo judaico” a partir de dezembro de 1941.
Câmaras de gás antes de Auschwitz?
Voltando a 1940, a própria Ação T4 já dá a dimensão do que estava por vir. Ação T4 é o termo utilizado para demarcar o assassinato sistemático de 70 mil deficientes físicos e mentais entre os anos de 1940 e os últimos dias da Segunda Guerra Mundial. Com ela, pela primeira vez os nazistas protocolavam e transformavam em política pública o uso de monóxido de carbono para assassinar em massa seres humanos que, segundo Hitler e cia., comprometiam o sucesso do programa de purificação da raça ariana. A “eutanásia”, como muitos denominam (erroneamente, já que eutanásia significa “boa morte”) as primeiras mortes em câmaras de gás na Alemanha, já prenunciava o que estaria por vir…
Se você tem interesse em saber mais sobre a Ação T4, não deixe de visitar o Memorial aos Deficientes Físicos e Mentais aqui em Berlim. Meu próximo post será justamente a respeito dele.